Quando fui convidada pela minha amiga Luciana a participar de um círculo de leitura do livro “Guia Prático para a Criatividade”, carinhosamente chamado de “O Caminho do Artista” (porque esse é o nome original em inglês: “The Artist Way”), disse sim sem piscar. Já havia ouvido ela e outros amigos comentarem sobre o livro e estava super curiosa! Mas, sinceramente, não achava que eu era artista ou que tinha algum dom ou talento artístico ou que faria arte ou nada relacionado a isso. Só achei que ia ser legal. Ponto.
Em um dos primeiros encontros, falei abertamente com o grupo que não tinha nenhum talento artístico, pois não sabia desenhar nem tinha dom musical. Na verdade, não sei nem recortar direito. Me lembro claramente da cara do Lu dizendo: “Ah tá, veremos”. Algumas semanas depois, eu já tinha certeza que sou artista, que tenho dons artísticos e que eu estava no lugar certo.
Na verdade, nunca duvidei de que estava no lugar certo. Cada linha que a gente lia do livro da Julia Cameron tocava profundamente algum cantinho da minha alma. Sabe quando você lê algo e sente que foi escrito pra você? Então, o livro inteiro foi escrito pra mim. E tenho certeza que foi escrito para muitas outras pessoas. Via isso nos olhos dos meus companheiros iniciais e vejo agora nos olhos das amigas que eu convidei para fazer parte do meu 2º grupo, o que eu estou conduzindo. Sim, porque, desde o 1º dia, quando a Lu disse que a ideia era que cada grupo gerasse outros grupos, eu tive certeza de que formaria um círculo com as minhas amigas. Sabia até quem seriam as convidadas. Nem todas que convidei aceitaram, mas algumas artistas me disseram sim e seguem comigo nessa jornada.
Nunca pensei o que teria que fazer para ter um grupo. Só tive certeza que faria um. “Ordens unidas”, como diz a Julia? Acho que sim. Só ouvi e segui.
Muitas ideias do livro simplesmente me pareciam tão certas que não segui-las seria como ir contra mim mesma. Em muitos momentos, me joguei. Saltei e, pasmem, a rede sempre apareceu. Pedi e fui atendida, das maneiras mais estranhas, completas, improváveis e rápidas.
Da descrença em relação a mim mesma à total confiança na minha criatividade, tiveram alguns “turning points”. As Páginas Matinais, com certeza, foram o instrumento mais certeiro que já experimentei na vida. Escrevi 3 páginas quase todos os dias das 12 semanas do 1º grupo e atualmente escrevo menos do que gostaria. Sinto falta quando não escrevo.
Mas talvez o maior turning point tenha sido a lista de 20 coisas que eu gosto de fazer. Fiz essa lista no meio da minha viagem de férias e concluí que havia feito quase tudo da lista na semana anterior. Só que, antes dessas férias, tinham coisas da lista que eu não fazia há anos! Coisas de graça! Coisas que eu amo! Como podemos passar ANOS sem fazer as coisas que amamos? Como podemos concluir que amamos fazer algo e não nos comprometer a fazer isso, sempre, todo dia, diversas vezes por dia, o máximo que pudermos?
Em algum momento, depois de escrever incontáveis páginas além das 3 Páginas Matinais durante essas férias, cheguei à conclusão de que sou escritora. Que louco né? Por que nunca havia me denominado assim antes? Provavelmente porque nunca tinha escavado o suficiente. Nem confiado o suficiente.
Ainda tenho dificuldades de confiar em Deus e em mim. Mas estou melhorando. Tudo o que vivi desde o final do ano passado, quando entrei nesse caminho, só me indicam que estou no rumo certo. A recuperação é lenta e continua. Ter amigos nesse processo ajuda bastante.
Descobri, escrevendo as Páginas Matinais, que sempre escrevi sem pensar. Acho que nem quando fiz vestibular “planejei” minhas redações. Se sei o que quero dizer, começo a escrever e pronto: fiz o texto. E, a partir da 3ª página, você para de reclamar e culpar os outros e passa a formular hipóteses e tomar decisões. E, quando você chega a essas conclusões, depois de 3 ou mais páginas, não há quem te convença do contrário: você está certo do rumo que tomou. (e se não estiver 100% convencido, irá escrever mais algumas páginas a respeito até ter certeza)
As sincronicidades e as portas sempre estiveram por aí. Você que nunca tinha tomado consciência delas. Porque, quando você começa a reparar nelas, elas são muito reais para serem ignoradas. Muito do que li no livro eu já sabia. Julia só confirmava as minhas certezas, mesmo que eu nunca tivesse tido condição de verbalizá-las ou formular uma ideia a respeito. Eram certezas adormecidas, mas que, uma vez lidas, experienciadas e vividas, se tornaram parte de mim.
Acho que essa é a melhor definição desse caminho: virou parte de mim. Me vejo subindo a montanha em espiral que a Julia descreve. Estou aqui, na montanha, escavando ossos, seguindo a direção que me indicam, caminhando, às vezes correndo, apreciando a paisagem, aprendendo. Tenho certeza disso. Ninguém me explicou melhor o que eu estava passando do que ela. Julia, minha amiga.
Com o decorrer do livro, vamos virando íntimos da autora. E do caminho. E de nós mesmos.
Foi maravilhoso poder descobrir quem é a minha artista, a minha criança interior. Sou eu mesma, mas em termos muito mais divertidos do que a realidade da vida adulta comporta. Na verdade, penso que sempre soube quem era a minha artista, mas nunca havia tido tantas chances de conviver com ela a ponto de saber defini-la exatamente. Ela gosta de mato. De cães e de montanhas. Odeia o Saara e, apesar de gostar de andar descalça e comer com a mão, curte coisas fofas e fazer as unhas. Ela sempre esteve aqui e eu sempre tive certeza dessas coisas, mas foram os exercícios, tarefas e ferramentas do “Guia” que me deixaram cara a cara com ela.
Tenho um quadro com uma caricatura minha aos 8 anos de idade. De tempos em tempos, me pegava olhando para mim mesma, naquele quadro, e pensando o que “ela” (eu) acharia de alguma coisa que estava acontecendo no momento. Tinha dias que olhava pra ela e me achava super parecida com ela. Tinha dias que achava que não tínhamos mais nada a ver. Estava procurando a minha artista e não sabia. Julia colocou em palavras a minha busca. Agora que achei minha artista (eu mesma), faço questão de andar de mãos dadas com ela 24h por dia.
Apesar disso, os encontros marcados fazem toda a diferença e enchem o meu poço como muitas viagens de férias não fariam. E em 1 ou 2 horas! E, a maioria das vezes, sem gastar nenhum dinheiro.
No meio do caminho, me dei conta do que eu realmente queria fazer da vida. E, ao mesmo tempo que parecia que nada estava mudando, tudo mudou.
Se eu posso compartilhar alguma conclusão dessa caminhada, é que vale a pena fazê-la. Todo mundo, até os mais descrentes, até os menos “artísticos”, podem descobrir coisas incríveis sobre si mesmos (e sobre a vida) se decidirem trilhar esse caminho. Julia é uma ótima professora e cada linha escrita nas Páginas Matinais vale a pena. Cada sonho que você desenterra aponta um caminho. Então, escreva. Encontre seu artista. Encha seu poço. Faça.